terça-feira, 31 de agosto de 2010

acorde de si, sussurra o mundo, eu não escuto.

me aquieto, me oculto,
de tudo:
surdo.
mudo.

e muda.
e ataca.
eu toda:
me cata, me emplaca.

dorme comigo, você pede, e me anima, e eu acordo
ao seu lado,
ou embaixo,
ou em cima.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

vo

quando ele morreu, eu parei.
o mundo se desqualificou.
doía, em cada dia, a noite do meu vô.

dois anos depois sonhei com ele, jovem, como nunca o vi.
como se o conhecesse desde antes, de quando ele era não meu vô: 
desde quando nós dois éramos da mesma idade. 
e desde então me profundei em eternidade. 

aí, dia desses, ganho um presente, pela janela: a voz do vô.
"ô júlia, acho que vou aterrissar"
meu vô joão eterno. 

vô voando e aterrissando, vô longe, vô bem perto.
ô, vô, eu também vôo!

domingo, 15 de agosto de 2010

mais uma vez

cá estamos nós:
eu e meu quarto bagunçado.

são rabiscos, retalhos, traços
dentro de nós, os laços
e desnecessária a ordem dos fatos
aleatórios, alheios, rasos, cheios
de vazio.

há sempre mais espaço, aqui,
pra nada e coisa nenhuma.

na desordem me encontro,
no quadrado me conforto:

eu e minha vida bagunçada.