12 horas atrás, quando ainda era dia e havia tempo,
eu bem podia ter-me debruçado sobre a prancheta, como o fiz,
e terminado PA3
- projeto arquitetônico multifamiliar -
mas qual o que!
em vez de hierarquias de linha, linhas de cota, cotas,
isso: vaguear de grafite no papel manteiga,
vasta produção de coisa alguma...
e agora que é tarde, madrugada, 4 horas para a entrega:
novos devaneios, em sonho formato, uma soneca.
que me dirá, meu querido professor?
e eu, que lhe direi?
terça-feira, 24 de maio de 2011
ando sem paciência,
ando louca a querer um comprovante de amor.
e tenho pressa, em transformar essa prova em carnes, curvas,
sangue-novo de amor.
ando sonhando com a barriga cheia, os peitos cheios,
os pés e a cara inchados, os desconfortos e os cheiros,
Estava no 996 a caminho do Rio, na ponte. Na subida do vão central, o ônibus subiu mais, descolou do chão, virou um imenso navio que ondeava no ar, seguindo o mesmo caminho, carros e ônibus passando embaixo, cada vez mais distantes. Tudo ficou leve, como feito de vento.
Os passageiros pareciam estar acostumados, ou não perceber a transformação, mas eu estranhei.
Me levantei e fui até a proa, lá havia um grupo de meninos. Na verdade, homens que pareciam meninos. Estavam a trabalho: eram 'bombeiros', recebiam muitos chamados, e saiam, voando - cada um pra um lugar, uma coisa diferente - e depois voltavam, e comemoravam mais uma tarefa cumprida, animados, murmurinho no ar.
Conversei com outras pessoas que também estavam ali, passageiros como eu, mas os bombeiros, eu só podia ouvir e observar, não era possível interagir, eles eram de outra dimensão, cinema no ar - e eram reais.
Então, na descida do vão central, o navio foi descendo também, voltando novamente a ser ônibus, a andar colado ao asfalto, a nos levar pro trabalho.