quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

liberdade, ando buscando você:

acho que chego mais perto
quando me sinto bem
sendo como sou.

faço as malas dos problemas, arremesso pra bem longe
subo numa maria-fumaça rumo ao lugar nenhum
ando entre vagões cheios de pessoas divertidas
- são, somos, seres humanos -
todos possuem defeitos, mas estão satisfeitos
(porque não há outro jeito mesmo)

então,
eu sou o trem
e acho que estou mais perto...

então,
eu sou a fumaça
e pelos ares me disperso.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Torrente trabalhadora


todos os dias pela manhã, quando as barcas atracam na praça XV
- não é suavemente

ainda que o mar esteja calmo, que o capitão seja hábil
que o dia tenha amanhecido com um frescor de outono
a multidão que se desprende é febril e inevitavelmente atrasada:

a mancha viva rapidamente permeia ruas e quarteirões
dissolve-se entre portas, evapora-se pelos elevadores
até precipitar-se, fim de tarde, novamente rumo ao mar

(ao lar)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

chegue

me aquieto mais e mais, vivo
entre conversas que não são minhas:
não tenho o que dizer porque não me diz respeito
o que me diz respeito não tenho a quem falar

fantasiei meu espelho, que me vê e me escuta e me conta do que sabemos ser
- é só uma imagem

tão e tão vazia, sigo
sendo som que não se propaga:
é matéria que falta
fibras da pele, calor de gente, timbre da voz, verdade do olhar

te chamei em pensamento: você chegou, me abraçou, me acalentou em seu peito
- foi só uma imagem

e o seu peito era a mistura
de todos outros que já conheci
não faça conta, só imagino, nunca inventei:
não posso te criar

apenas chegue, me aconchegue em tudo que é seu e que é novo pra mim.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pensei, passeando por Paraty: gosto porque a cidade é realmente bela ou porque é bela a cidade que não existe mais? Gosto das portas, telhados, das ruas, proporções, ou gosto do que já não é, do tempo em que não estou?

Não sei... mas oras, como? Se nem ao menos sei o que é gostar!

Pedras empilhadas, madeiras aplainadas, barro cozido... são amáveis?
(Veja que não é questão de retribuir a afeição, creio que não me tenham alguma.)

Será então, que é porque foram - rocha, árvore, terra - dominadas por mãos alheias e tanto tempo depois, assim organizadas, ainda me são úteis?

Estaria o gosto na utilidade?
(Não me imaginava assim tão prática!)

Pois eu o amo porque é útil ao meu existir. E amo essa cidade velha porque me é útil o seu não existir.