sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Vestígios de Sonho - III

E cheguei à um tempo e uma vida passada,
uma cidade pequena, uma noite chuvosa.
Tocava música, era acordeon.

Havia um casal: dançavam nus pelas ruas, girando, girando...
Num momento eu admirava, depois era eu a moça,
e girava, girava, girava junto ao meu par.

Então algo aconteceu, ele precisou fugir.
Pedi-lhe que guardasse um número:
127 (falei em espanhol, pausadamente: uno, dos, siete).

Sozinha, sentia frio, fome e medo.
Outro homem apareceu e me deu uns restos de comida (era o mecânico do pedregulho).
Fiquei agradecida. Não lembro mais nada.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

alguém roncando
um gato miando
um casal gemendo

eis minha vizinhança nesta
segunda-feira, cinco de agosto,
às duas e quarenta e seis
da madrugada.

sábado, 3 de agosto de 2013

A sexta amanhece como um alívio, falta pouco pra ser sábado, e então: acordar a hora que quiser, mesmo que cedo pra ir até o centro fazer compras, varrer a casa, lavar a roupa. Essas coisas, gosto mais quando estão terminadas - a casa em ordem - e me sinto bem porque cuidei da casa e cuidei de mim. A sexta é essa espera do sábado doméstico.

No entanto hoje é sábado, já é tarde, e permaneço no meu quarto, porta fechada pra casa e pros outros. Tenho desvontade de ouvir as vozes e conversas. E fico dentro, subjetivamente protegida, com um remorso acomodado de não estar descongelando a geladeira nem esfregando o fogão.

Quero a casa limpa mas também a quero silenciosa, para que possa povoá-la com as vozes queridas que estão longe e só imagino, e não chegam tão nítidas quando a casa vai bagunçada.

Percebo que há tanto tempo venho vivendo com experiências imaginárias... e espanto-me quando tornam-se lembranças: invento lembranças pra poder acordar. Fantasio pra suportar a vida maquinária que estou levando, sem saber se é inteligência ou covardia.

O sábado hoje está nublado, mais ainda estão meus pensamentos...