sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Plaft (Incompleto/2007)

Plaft. É o ultimato: ou você levanta agora dessa cama ou desiste do dia, já passaram seus 15 minutos a mais... vamo, acorda! Pronto!

É assim todo dia, o despertador toca, 15 minutos, jornal batendo na parede, plaft, eu preciso levantar, a cama, o edredon, o travesseiro, os travesseiros... depois o chão, o chinelo, o roupão. E lá vou eu, enquanto maldigo qualquer coisa, pegar o jornal. O cheiro de café denuncia que papai, muito provavelmente, já tá na sua cadeira, esperando pra abrir o Caderno 2.

Depois que mamãe resolveu ser monge, papai veio morar comigo. Então fizemos um acordo: ele prepara o café, eu pego o jornal. Assim, ele não deixa de esperar alguma coisa, e eu sou obrigado a levantar, só pra não deixar meu velho sem as notícias.... Tem dado certo.

O dia estava lindo! Por acaso olhei a placa da rua e fiquei confusa. Rua YN-15? Peraí, moro aqui há 25 anos... Na etiqueta do jornal, Rua dos Colibris, correto, corretíssimo. Entro em casa.
- Bom dia papai.
- Bom dia.
- Olha a nova da mulecagem, tão dando pra trocar as placas da rua.
Ele deu uma risada, pegou o jornal e me serviu o café preto, forte, sem açúcar:
- Essa garotada...
- Como sempre, passando dos limites. Tomei um susto, tá lá, Rua YN-15!
E ele já tinha aberto o jornal, mas prestava alguma atenção no que eu falava. Biquei o café, ops, quente.
- E isso lá é nome de rua! Se esse fosse o nome da nossa rua eu até pagava esses muleque pra trocar a placa... Vai ver foi isso, é, foi isso: alguém pagou.

Ás vezes os comentários de papai me preocupam. Ele anda muito poético, parece que vive no mundo da lua, também, não larga aquele segundo caderno... lançamento de livro pra cá, um filme excelente, uma abordagem ... isso tudo logo pela manhã.

- Acho que vou ligar pra polícia.
- Eu me lembro de quando a gente construiu essa casa... foi a segunda da rua, a primeira é a da frente, do Lorival. E a rua ainda não tinha nome não!

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