terça-feira, 15 de novembro de 2011

Hoje pela manhã, um caminhão carregado de sono tombou em minha cama. O colchão, que só foi liberado após o meio-dia, ainda apresenta vestígios dos sonhos derramados...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Noite Verdadeira - I

parem! parem tudo!
não me enviem as últimas notícias,
nem do mundo, nem de ninguém!
não quero saber mais nada!

estou farta de informação, vazia de sentido.
estou cansada, todos estão.

parem, por favor...

apaguem as luzes,
fiquemos calados:

quero o silêncio de uma noite verdadeira.

domingo, 4 de setembro de 2011

faço agora o derradeiro esforço
de terminar o que não me faz sentido,
nem me terá serventia

iludi-me e desiludi-me tanto
só não parei por medo de parar
e entendi: nunca sai do lugar

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ai, que preguiça!
ai, tô indecisa!

não sei se quero continuar nessa... mas pensando bem...
mudar dá muito trabalho!

sábado, 30 de julho de 2011

O Tempo - IV

no intervalo entre as obrigações
fica o pátio do recreio:
tempo
- é o lugar onde há espaço para ser livre.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

não sei se aprendi a falar assim com o velhos e os poetas,
ou se é sincera a admiração...
mas como são belas, as serras azuis da minha terra!
numa manhã qualquer, inverno ou verão,
sua majestade se faz presente
generosa, sóbria,
sutilmente.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

desatar:
desfazer o nó de; soltar; desprender — ou assim:
estrada.

terça-feira, 31 de maio de 2011

O Tempo - III

majestade, se me esbanja
mendingo, se me esmola
sou caviar, também sou canja
sou seu topete e sua sola

O Tempo - II

ah tempo! o rei, o mestre,
ou o mendigo esfomeado
que me esmola e consome!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

12 horas atrás, quando ainda era dia e havia tempo,
eu bem podia ter-me debruçado sobre a prancheta, como o fiz,
e terminado PA3
- projeto arquitetônico multifamiliar -
mas qual o que!
em vez de hierarquias de linha, linhas de cota, cotas,
isso: vaguear de grafite no papel manteiga,
vasta produção de coisa alguma...
e agora que é tarde, madrugada, 4 horas para a entrega:
novos devaneios, em sonho formato, uma soneca.

que me dirá, meu querido professor?
e eu, que lhe direi?

terça-feira, 24 de maio de 2011

ando sem paciência,
ando louca a querer um comprovante de amor.

e tenho pressa, em transformar essa prova em carnes, curvas,
sangue-novo de amor.

ando sonhando com a barriga cheia, os peitos cheios,
os pés e a cara inchados, os desconfortos e os cheiros,
e todos demais sintomas do amor:

que vai crescer, me expandir, pra além de mim.

mas ao longe escuto uma voz que diz: calma,
primeiro você precisa esperar...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vestígios de Sonho - II

Estava no 996 a caminho do Rio, na ponte. Na subida do vão central, o ônibus subiu mais, descolou do chão, virou um imenso navio que ondeava no ar, seguindo o mesmo caminho, carros e ônibus passando embaixo, cada vez mais distantes. Tudo ficou leve, como feito de vento.
Os passageiros pareciam estar acostumados, ou não perceber a transformação, mas eu estranhei. 
Me levantei e fui até a proa, lá havia um grupo de meninos. Na verdade, homens que pareciam meninos. Estavam a trabalho: eram 'bombeiros', recebiam muitos chamados, e saiam, voando - cada um pra um lugar, uma coisa diferente - e depois voltavam, e comemoravam mais uma tarefa cumprida, animados, murmurinho no ar.
Conversei com outras pessoas que também estavam ali, passageiros como eu, mas os bombeiros, eu só podia ouvir e observar, não era possível interagir, eles eram de outra dimensão, cinema no ar - e eram reais.
Então, na descida do vão central, o navio foi descendo também, voltando novamente a ser ônibus, a andar colado ao asfalto, a nos levar pro trabalho. 


O vestígio: a leveza que sinto agora.

domingo, 17 de abril de 2011

vida perfeita,
compromisso.
por isto nascer,
morrer para isso.
muito embora ainda exista amor, vou-me embora...

eu vou,
ainda existo.

e o amor?

virá,
em boa hora!

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Tempo - I

o tempo não passa
não passa de mero caminho
caminho de volta pra casa

sexta-feira, 8 de abril de 2011

quando os justos estão dormindo o sono assegurado
não para o descanso: para o trabalho
é quando vou acordando prumas vagas inquietações
e não há o que fazer senão encará-las, ou melhor

descerrá-las

até que,
saciadas do passeio,
se aquietem,
eu também.

já sei que não haverá conclusão nenhuma,
apenas sono pesado pela manhã

terça-feira, 5 de abril de 2011

na esquina, um bar,
no canto, uma mesa.

na mesa, uma coca, um maço e um livro.
debruçado sobre eles um menino.

na rua, os carros, pessoas que passam,
não notam o menino.

nem me notam, na outra esquina,
a me acabar por ele...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

desabafo de uma dona de casa

passo o café, passo a roupa, passo um pano no chão
faço almoço, lavo a louça, levo o lixo pra fora
ouço as noticias da semana na televisão
levo o menino pra escola

pego as cartas, molho as plantas, ponho as mantas ao sol
pago as contas, faço as compras e até leio um jornal
pego a receita do domingo na televisão
pego o menino na escola

e tem mais, o vizinhos,
eles são até legais,
só que falam demais
blá blá blá blá blá blá!
meu benzinho, eu quero paz!

e já faz um tempo que eu economizo
o troco do pão!
e ando frequentando a agência de turismo
— tem promoção?
pois hoje comprei um pacote, incluindo
a passagem do avião!

só preciso de um pouco de sol,
de água de coco,
talvez um banho de butique,
são só dez dias,
eu volto...

com marquinha de biquíni!

segunda-feira, 28 de março de 2011

Contos de Fumaça - I

O tema da prosa, da vez, era a posse das terras de trás da igreja.
Falaram no nome de Mané Nune, que começou fazendo fortuna de maneira meio sem modos:

Em tempos de safra de café, juntava mulher e filhos,
e metidos em lençóis,
e munidos com velas,
saíam pela noite a assombrar as casas, e se o morador, no medo de ser mesmo coisa de outro mundo, fugisse, deixando as sacas no jeito de se pegar, ele pegava. Na mesma noite rumava pra cidade com os grãos que não havia plantado nem colhido. Quem espreitasse pela janela curioso do barulho, via o fantasma da carroça passando.

Rosinha Nune sua filha, tomou mesmo tanto gosto na atuação do assombro que ainda hoje, já beirando o centenário, agenda suas peças pela madrugada... 

sábado, 19 de março de 2011

não palavras, criadas.

são as não-palavras:
grunhido, gemido, suspiro, choro, risada, grito
- o intrínseco -,
honesta comunicação.

sons ou não sons?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Vestígios de Sonho - I

Era um sítio. Fazia sol. Estava num gramado, próximo à casa.
Fui picada por uma abelha, 
logo muitas abelhas (se emaranhando nos cabelos),
zumbido,
confusão,
escuro.

Acordei dentro da casa. Fora, ainda fazia sol, mas a casa era fria.
Veio a mãe do sonho: quis saber como me sentia.
Contou do ataque das abelhas,
que estive desacordada desde então,
que muitos anos haviam se passado... e nesse tempo chegou um moço, 
um enfermeiro, que cuidou de mim e esteve sempre ao meu lado:
me alimentando, contando histórias, esperando pacientemente que eu acordasse.

Ele acabou de sair - disse a mãe - mas prometeu voltar logo.

Corri pra janela e ainda o vi seguindo em direção à porteira.
Não usava uniforme, mas umas roupas velhas,
era alto, magro, os cabelos reluziam ao sol.

Quando ia fechar o trinco, fez um movimento de olhar pra casa...

Me escondi entre as cortinas e continuei observando...
aquela figura que, subitamente, me encantara
- mas que também me metia medo.


O vestígio: uma sensação de renascimento e de curiosidade, se é que não significam a mesma coisa...
quando durmo, moro em mim
quando sonho, passeio
tão logo acordo, me guardo
portanto: nunca saio

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

criança, quando cai,
acha graça!
ou chora - se dói - e passa.

- que sapeca!

e o adulto quando cai?
se embaraça, todo chato,
e disfarça, kick ass.

- que boboca!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

agora você me olha, você me lê
por amor ou pura curiosidade
porque sente saudade
você ainda me guarda.

e eu continuo toda errada
enquanto não durmo
a me revirar, a nunca encontrar
o que eu queria ser.