quarta-feira, 18 de dezembro de 2013


sua palma espelhada na minha:
vamos acasalar

- não casar -

vamos selar
duas almas em um par: doce lar.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013


quero além da verdade

verdade é metade
verdade
metade mentira

a verdade me parte
eu grito:

quero ser inteira

segunda-feira, 25 de novembro de 2013


pode ser, pode não ser..
afinal, o que é mais improvável?

ser
poder
ou saber?

se o futuro é insondável,
também o passado deveria ser.

domingo, 24 de novembro de 2013


o futuro deixa rastros
na luz de velhos astros
que não existem mais no céu

estudiosos fazem contas
exotéricos jogam contas
eu atraso minhas contas
e tu, que me contas?

que o céu é uma miragem
que os astros são bobagem
que o futuro anda ao léu!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A Noite Verdadeira - II

Viajo pela noite
que não é a noite verdadeira:
lâmpadas ofuscam sua cor,
falta meu homem ao meu lado,
o silêncio é cortado por ruídos maquinários.

A viagem é boa
(ainda que não seja a noite verdadeira)
pois nela passeia a esperança daqueles abraços
e a intuição do encontro em alto céu:
imaginário, colorido, interminável.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

sinto saudades,
suponho o amor.
me sinto só.

a vida, pressinto, é distinta:
é amor diariamente reposto.

palavras não explicam.
em verdade, nas horas sérias,
palavras são desnecessárias.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Vestígios de Sonho - III

E cheguei à um tempo e uma vida passada,
uma cidade pequena, uma noite chuvosa.
Tocava música, era acordeon.

Havia um casal: dançavam nus pelas ruas, girando, girando...
Num momento eu admirava, depois era eu a moça,
e girava, girava, girava junto ao meu par.

Então algo aconteceu, ele precisou fugir.
Pedi-lhe que guardasse um número:
127 (falei em espanhol, pausadamente: uno, dos, siete).

Sozinha, sentia frio, fome e medo.
Outro homem apareceu e me deu uns restos de comida (era o mecânico do pedregulho).
Fiquei agradecida. Não lembro mais nada.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

alguém roncando
um gato miando
um casal gemendo

eis minha vizinhança nesta
segunda-feira, cinco de agosto,
às duas e quarenta e seis
da madrugada.

sábado, 3 de agosto de 2013

A sexta amanhece como um alívio, falta pouco pra ser sábado, e então: acordar a hora que quiser, mesmo que cedo pra ir até o centro fazer compras, varrer a casa, lavar a roupa. Essas coisas, gosto mais quando estão terminadas - a casa em ordem - e me sinto bem porque cuidei da casa e cuidei de mim. A sexta é essa espera do sábado doméstico.

No entanto hoje é sábado, já é tarde, e permaneço no meu quarto, porta fechada pra casa e pros outros. Tenho desvontade de ouvir as vozes e conversas. E fico dentro, subjetivamente protegida, com um remorso acomodado de não estar descongelando a geladeira nem esfregando o fogão.

Quero a casa limpa mas também a quero silenciosa, para que possa povoá-la com as vozes queridas que estão longe e só imagino, e não chegam tão nítidas quando a casa vai bagunçada.

Percebo que há tanto tempo venho vivendo com experiências imaginárias... e espanto-me quando tornam-se lembranças: invento lembranças pra poder acordar. Fantasio pra suportar a vida maquinária que estou levando, sem saber se é inteligência ou covardia.

O sábado hoje está nublado, mais ainda estão meus pensamentos...

quinta-feira, 13 de junho de 2013

insone

mal a noite cai
ele chega
eu desconverso

finjo que nem vi, e como quem entende: ele se vai

a noite atravessa as horas
ou horas atravessam a noite
trazendo à porta passarinhos

deito, fecho os olhos, tento
enquanto um último pernilongo também tenta
uma última refeição

ai! maledetto!

e ele não vem...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

liberdade, ando buscando você:

acho que chego mais perto
quando me sinto bem
sendo como sou.

faço as malas dos problemas, arremesso pra bem longe
subo numa maria-fumaça rumo ao lugar nenhum
ando entre vagões cheios de pessoas divertidas
- são, somos, seres humanos -
todos possuem defeitos, mas estão satisfeitos
(porque não há outro jeito mesmo)

então,
eu sou o trem
e acho que estou mais perto...

então,
eu sou a fumaça
e pelos ares me disperso.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Torrente trabalhadora


todos os dias pela manhã, quando as barcas atracam na praça XV
- não é suavemente

ainda que o mar esteja calmo, que o capitão seja hábil
que o dia tenha amanhecido com um frescor de outono
a multidão que se desprende é febril e inevitavelmente atrasada:

a mancha viva rapidamente permeia ruas e quarteirões
dissolve-se entre portas, evapora-se pelos elevadores
até precipitar-se, fim de tarde, novamente rumo ao mar

(ao lar)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

chegue

me aquieto mais e mais, vivo
entre conversas que não são minhas:
não tenho o que dizer porque não me diz respeito
o que me diz respeito não tenho a quem falar

fantasiei meu espelho, que me vê e me escuta e me conta do que sabemos ser
- é só uma imagem

tão e tão vazia, sigo
sendo som que não se propaga:
é matéria que falta
fibras da pele, calor de gente, timbre da voz, verdade do olhar

te chamei em pensamento: você chegou, me abraçou, me acalentou em seu peito
- foi só uma imagem

e o seu peito era a mistura
de todos outros que já conheci
não faça conta, só imagino, nunca inventei:
não posso te criar

apenas chegue, me aconchegue em tudo que é seu e que é novo pra mim.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pensei, passeando por Paraty: gosto porque a cidade é realmente bela ou porque é bela a cidade que não existe mais? Gosto das portas, telhados, das ruas, proporções, ou gosto do que já não é, do tempo em que não estou?

Não sei... mas oras, como? Se nem ao menos sei o que é gostar!

Pedras empilhadas, madeiras aplainadas, barro cozido... são amáveis?
(Veja que não é questão de retribuir a afeição, creio que não me tenham alguma.)

Será então, que é porque foram - rocha, árvore, terra - dominadas por mãos alheias e tanto tempo depois, assim organizadas, ainda me são úteis?

Estaria o gosto na utilidade?
(Não me imaginava assim tão prática!)

Pois eu o amo porque é útil ao meu existir. E amo essa cidade velha porque me é útil o seu não existir.